Quando eu tinha 15 anos, minha mãe finalmente começou deixar eu ir sozinha para minhas aulas de dança (que ficava no centro da cidade). Eu moro numa cidade pequena, interior de São Paulo, eu ia a pé até o local, feliz e contente, me achando super independente. Um dia, quando eu estava chegando lá perto, um senhor de bicicleta me assediou, ele não me tocou, ele não desceu da bicicleta, ele não me impediu de continuar meu caminho. Ele diminuiu a velocidade da bicicleta e começou a falar sobre o meu corpo, sobre partes do meu corpo que nem sequer estavam amostras, falou o que faria com elas, eu abaixei a cabeça, ele se deu por satisfeito e seguiu seu caminho.
Eu me senti a pior pessoa do mundo naquele dia, fiquei com medo, fiquei com nojo, me senti suja, me senti envergonhada, fiz a aula chorando, minhas amigas me consolaram dizendo que também já havia acontecido com elas. Cheguei em casa em prantos e minha mãe disse que era normal, que eu estava ficando mocinha e que tinha que tomar cuidado pra não chamar atenção. Que fique claro aqui que quando eu tinha 15 anos eu tinha acabado de menstruar, ou seja, nem tinha um corpo de mulher ainda, eu parecia e me sentia como uma criança.
Desde esse dia eu comecei a ir para a dança de calça jeans e blusa larga, e me trocava lá na escola. Mas isso não impediu que alguns homens achassem que poderiam “me elogiar”, me chamar de coisas que eu nem tinha ideia do que eram. Depois de um tempo, no mesmo ano, quando estava chegando em casa, realizada e feliz por estar voltando das minhas aulas de dança, o mesmo senhor de bicicleta que mexeu comigo no começo da história, resolveu fazer a mesma coisa, eu sabia que era ele, porque eu decorei o rosto dele, eu não queria que ele soubesse onde era minha casa, eu abaixei a cabeça e fiquei rezando para que ele fosse embora logo, mas dessa vez ele me acompanhou durante dois quarteirões me dizendo coisas horríveis sobre o que faria comigo.
Eu sabia que quando eu chegasse em casa reclamando ninguém faria nada, eu sabia que ninguém poderia fazer nada pra me ajudar, que eu não era a primeira pessoas que estava sofrendo aquele tipo de assédio, nem seria a última. Então eu resolvi que me defenderia, que era melhor eu sofrer qualquer consequência do que continuar sendo humilhada e me sentindo enojada, eu apertei o passo, vi que estava chegando perto de um bar cheio de pessoas, já perto da minha casa, e comecei a gritar contra aquela pessoa, dizendo que ele era um velho safado nojento, que ele tinha que mexer com a mãe dele e pra ele enfiar aquele elogios no lugar mais adequado. Ele ficou claramente assustado, ficou atordoado, viu que os caras do bar (senhores também) se levantaram e foram tirar satisfações com ele, ele apenas ficou repetindo pra eu ficar quieta, que ele estava apenas me elogiando. Nunca mais vi aquele senhor, que provavelmente morava no mesmo bairro que eu, tinha família, tinha filhos, quem sabe, mas achava normal falar do MEU corpo como algo publico.
Essa é a minha história, e eu tenho certeza que, infelizmente, você, mulher também tem a sua. Sei que tive sorte, que muita coisa ruim poderia ter acontecido por eu reagir daquela forma, mas eu sei também que muita coisa ruim poderia ter acontecido se eu também não fizesse nada. Porque para muitas pessoas (homens e mulheres) aquela atitude, daquele homem, era normal.
A Jaqueline Bastos, do blog Eu Insólito [um blog super bacana cheio de bom conteúdo e ótimas dicas], fez uma postagem super bacana sobre a campanha Chega de Fiu Fiu. Achei a ideia tão genial e mexeu tanto comigo que corri pra ler mais e falar aqui também no blog!
Think Olga é um projeto criado em 2013 pela jornalista Juliana Faria, com o intuito de refletir sobre a complexidade das mulheres e nos fazer sentir mais respeitadas e levadas a sério, porque realmente, as coisas continuam meio complicadas, porém um pouco disfarçadas sobre a falsa bandeira da “Igualdade de Gênero”.
“Nossa luta é para que as mulheres possam ter mais escolhas. Nunca menos. Bem como garantir que elas façam suas escolhas de maneira informada e consentida, sem que nunca tenham que pedir desculpas por tais decisões.” (http://thinkolga.com/a-olga/)
Em julho do mesmo ano, Juliana, resolveu criar o movimento “Chega de Fiu Fiu” que mostra que ser assediada em espaço publico não é normal, ou seja, está mais do que na hora de desmistificar essas cantadas e parar com a culpabilização da vítima.
E não me venha com mimimi de que é apenas um elogio, ou você estava paquerando a garota, ou ela estava vestida de um jeito provocante. O espaço publico é PUBLICO, olha em volta e veja quantas pessoas pegam o transporte, quantas pessoas passam em frente aquele bar ou por aquela rua. Que idade elas tem? Você sabe sobre o que cada pessoa (homem ou mulher) está passando naquele momento?
Quer saber mais sobre o projeto? Quer saber se você pode ser considera vítima ou agressor? Entre aqui e tire suas dúvidas. Além disso, você pode ler o ebook e ver a cartilha, futuramente o documentário também será lançado. Se ainda sim, você está em dúvida, se o que você acha que é um elogio ou um assédio o que você faz, pense se você gostaria de saber que sua filha, irmã, tia, sobrinha e mãe ouviram/sentiram aquilo que você iria falar/fazer para aquela garota no ônibus, ou da rua, ou na balada.
Juliana deu uma palestra no TED em São Paulo sobre o site. Vale a pena assistir, são apenas 15 minutos.
Vamos falar sobre? Comente!
Escrito por:
Mari Bomfim
Olá Mari!
Obrigada por divulgar a campanha.
Absurdo o que aconteceu com você , e infelizmente ainda acontece com meninas e mulheres de todas as idades ,como disse infelizmente todas passamos por isso. Um projeto como esse tem que chegar a todas as mulheres , para haver de fato um respaldo pra esse tipo de assedio.
CurtirCurtido por 1 pessoa
Pois é jaque! Isso ocorre todos os dias e precisamos começar a falar sobre isso! Obg pelo comentário! Bjos
CurtirCurtido por 1 pessoa
Obrigada você pela divulgação da campanha. Beijo Mari ! ^^
CurtirCurtido por 1 pessoa
Ridículo mesmo. Concordo que dá uma ânsia só de pensar em alguém me assediando. Já aconteceu, claro, como com toda mulher. O que eu fiz algumas vezes é o que não acontece normalmente: eu olho com a cara bem fechada e digo “como é que é?” viro e solto um “ah, vai se catar”. Eu sei que não é o certo, mas teve vezes que não me segurei.
Muito bom post, Mari!
Super beijo!
Bia,
Blog Since85
CurtirCurtido por 1 pessoa
Obg bia! Pois é, as vezes não dá pra segurar mesmo, da muita raiva neh? obg pelo comentário! Bjos
CurtirCurtir
Muito legal essa campanha e acho que devemos mostrar mesmo que somos mulheres e merecemos respeito. Não sei se voce ja ouviu falar na campanha Não Mereço Ser Estrupada, foi feita pela filha da minha madrinha, Nana Queiroz e mostra também o absurdo do que os homens pensam que podem fazer com nós mulheres, as vezes só pelo fato de estarmos usando uma roupa mais curta.
Adorei o post sobre esse tema tão participativo do nosso cotidiano.
beijos
CurtirCurtir
Aah muito legal essa campanha também! Vou dar uma olhada pra saber mais! Realmente as pessoas tem q entender q a culpa NUNCA é da vítima! Obg pelo comentário! Bjos
CurtirCurtido por 1 pessoa
Incrível a campanha! Infelizmente toda ou quase toda mulher passa por situações assim! Em cidades grandes ou pequenas! Mulher merece respeito! Parabéns por compartilhar 🙂
CurtirCurtido por 1 pessoa
realmente não importa onde ela vive! homem, mulher, isso tb n importa, merecemos respeito 🙂 muito obrigada pelo comentário fabi! bjos
CurtirCurtido por 1 pessoa
Nossa, que história tocante a sua! Fico revoltada com esse tipo de coisa ainda acontecendo conosco, mesmo depois de tantos anos de luta. Que acabe esse tipo de assédio contra nós, que acabe essa “mania” ridícula de nos olhar, nos tocar, falar conosco de uma maneira que não queremos. E que acabe também o preconceito, de uma vez por todas, contra nós, mulheres, seja pela roupa que vestimos, a cor do nosso batom, nosso comportamento. Somos tão livres quanto qualquer homem, e MERECEMOS RESPEITO, por parte deles e também de outras mulheres!
Chega de fiu fiu. Chega de tudo isso!
Adorei o post, muito!
Xero
http://mulherpequena.wordpress.com
CurtirCurtido por 1 pessoa
é revoltante mesmo, mari! obrigada pelo comentário! bjos
CurtirCurtido por 1 pessoa
Eu sinto muito que você tenha passado por isso tão cedo. Mas, fico muito feliz e orgulhosa – mesmo sem te conhecer – de que você tenha tido sabedoria e coragem para se defender. Não faz muito tempo que eu conheci o Think Olga, justamente por causa do Chega de Fiu Fiu, e foi ai que eu, finalmente, me senti aliviada por saber que eu não era a única a não gostar dos “elogios” e querer fazer algo a respeito. Por isso, agradeço muito que você esteja usando o espaço do seu blog para compartilhar sua história e divulgar a campanha.
Um forte e sincero abraço.
❤
yellowevershine.wordpress.com
CurtirCurtido por 1 pessoa
Obrigad Lari! Obrigada pelas palavras e pelo comentário *-* bjos
CurtirCurtir
Boa noite minha cara, é a primeira vez que venho ao seu blogue, pelo que me lembre. E fui lendo seus posts, até chegar a esse… fiquei surpresa com a sua narrativa e me lembrei de um caso que ocorreu com uma amiga minha. Ela chegou a minha casa (eu dava aulas para ela) irritada porque alguém tinha passado a mão nela dentro do trem. Se sentiu invadida, suja, miserável e não parava de chorar. Foi um momento difícil. A vergonha foi a parte difícil e ela ainda se sentiu culpada. Minha mãe ficou um bom tempo conversando com ela. Lembro que nas semanas seguintes foi tudo muito complicado, ela tinha medo das pessoas…
Isso acontece com muitas de nós, mas nos calamos por vergonha, culpa, porque muita gente acha que somos responsáveis por causa da roupa que usamos ou da maneira como nos comportamos. Inaceitável.
Precisamos mudar esse cenário.
bacio e parabéns pelo post
CurtirCurtido por 1 pessoa
muito obrigada lunna pelo comentário e por vir fazer uma visita ao meu blog! adoro seus textos e isso me deixa imensamente feliz! bjos
CurtirCurtir