Ainda não me mudei, falta bem pouco agora, mas parece que aquele momento de angústia inicial foi se dissolvendo. Hoje consegui fazer ioga, depois de 15 dias sem fazer [sendo que era uma rotina para mim], eu consegui me convencer que, já que não existe o botão de acelerar como no The Sims, não adianta ficar esperando as coisas se resolverem enquanto eu sento e espero vendo o tempo passar. A gente tem que viver cada etapa, e esse momento de espera, faz parte do processo de decidir sair de casa. As coisas não acontecem do dia para noite, “eu decidi morar sozinha e em um estalar de dedos as coisas vão se resolver”. Não… não é assim.
Essa fase me faz lembrar muito minha adolescência. Eu lembro perfeitamente da sensação de angústia que eu tinha naquela época. Coincidentemente, eu também queria sair de casa naquele momento, estudava para passar no vestibular e morar fora. Eu era uma adolescente bem chata, não vou me redimir não, gostava das coisas do meu jeito, ficava irritada quando não era como eu queria, e quando havia brigas [seja eu com meus irmãos, eu com minha mãe, ou entre meus pais] eu ia para o quarto chorar e só desejava que tudo passasse muito rápido.
Quando finalmente eu passei no vestibular e meu sonho de morar fora ia se realizar, eu nem comemorei, eu tinha medo de ficar muito feliz com isso e não se concretizar, sabe? Eu só fiquei esperando as coisas acontecerem, eu meio que fiz o que tinha que fazer [juntar documentação, ligar para faculdade], mas depois disso eu não conseguia tomar nenhuma atitude, eu passava meus dias sentada no sofá, assistindo filmes que eu nem me lembro, só pra passar o tempo e realmente “começar a viver”.
Quando eu era adolescente eu tinha a nítida sensação que eu não tinha “controle da minha vida” eu me sentia uma mera expectadora, ia vivendo de forma automática, porque para mim eu só ia começar a viver de verdade, quando eu estivesse com 18 anos, na faculdade, fazendo “tudo o que eu queria viver”. Fui muito inocente? Sim, mas também hoje eu entendo essa sensação. Minha família nunca tinha me dado autonomia de verdade, meus pais resolviam meus problemas, eles me viam como frágil, quase que incapaz de lidar com as coisas e isso não era maldade, apenas era assim que minha família nos educava: meu irmão tinha que lidar com tudo e eu era protegida.
Vivendo em Campinas, resolvendo meus problemas e não deixando transparecer meu desespero em alguns momentos para minha família [para que eles não me mandassem voltar] eu aprendi a ser mais independente, a lidar com as consequências e fazer as coisas chatas de adulto: marcar médico, resolver burocracia, organizar minhas finanças. Hoje consigo cobrar mais de mim mesma essa capacidade de resolver problemas, ainda choro ou fico parada por um momento esperando que as coisas se resolvam sozinhas, sim! Alguns hábitos são difíceis de tirar, mas hoje eu sei depois das lágrimas ou da ansiedade, os problemas ainda estarão me esperando e serei eu que terei que resolvê-los.