Há mais ou menos dois meses eu tomei uma decisão. Já fazia algum tempo que eu estava me sentindo cansada, eu conseguia perceber que meu comportamento não era o mesmo, não podia ser apenas “porque eu estava ficando mais velha” eram realmente questões emocionais. Eu que sempre me preocupei em ter uma mente saudável, em fazer coisas que me fazem bem, em ter um momento de descanso, mesmo quando algo no trabalho ou em casa estava indo mal. Eu não conseguia mais voltar ao meu estado de calma.
Voltar para casa me irritava, em alguns momentos eu realmente tinha taquicardia no caminho de volta, eu comecei a ficar ainda mais tempo no Rafa, saímos todo final de semana, fazia de tudo para que meu tempo em casa fosse o mínimo, e quando não havia jeito, ficava dentro do meu quarto, parada, fechada dentro de mim, mas ainda assim, não conseguia fazer dele meu refúgio.
Então, depois de fazer mil e uma contas, chorar, decidir e depois desistir, eu finalmente falei em voz alta: vou sair de casa. Veja bem, eu já tenho idade o suficiente para tomar essa decisão, já faz algum tempo, então nem um drama nessa parte, e esse sempre foi meu maior desejo desde que eu me lembro: “sair de casa” “morar sozinha”. O fator decisivo foi realmente não me sentir mais a vontade na casa dos meus pais, eu sentia que tudo o que eu falava ou fazia interferia negativamente no ambiente que já não estava muito bom por si só.
Eu chegava do trabalho, que também estava tenso, e não me sentia acolhida, não conseguia achar um momento de “respirar fundo e aproveitar o aconchego do lar”, e parecia que só a mim incomodava toda a situação, fiquei em muitos momentos me analisando, tentando entender o porquê eu era tão chata, egoísta e orgulhosa.
Então eu peguei a famosa frase “os incomodados que se mudem” e comecei a realmente pensar na ideia de ter meu próprio canto. Resumo da ópera: hoje estou aqui, escrevendo esse texto no sofá da minha sala, esperando o montador terminar de arrumar o armário da cozinha. Não vou dizer que não tenho medo ou que agora sou a pessoa mais em paz do mundo. Sei que terei que enfrentar muita coisa, mas sei também que tomei a decisão certa e que meu mundo, meu pequeno planeta, pode entrar na órbita mais natural para ele.